A Arte da Presença, da Escuta e da Inclusão
- Mário Costa
- há 6 dias
- 2 min de leitura

O teatro de improviso é, por natureza, um espaço de encontro humano. Nele, artistas constroem narrativas no momento, sem guião pré-definido, confiando na escuta, na generosidade e na colaboração. Já o soundpainting, uma linguagem de gestos criada por Walter Thompson nos anos 70, funciona como um “vocabulário” multidisciplinar que permite dirigir performers em tempo real. Quando estas duas práticas se cruzam, nasce um território artístico vibrante, espontâneo e profundamente inclusivo.
No improviso teatral, tudo começa pela aceitação: do momento, do outro e do inesperado. A famosa regra do “sim, e…” cria um ambiente onde nenhuma ideia é descartada à partida. Este princípio faz com que o improviso seja, por si só, inclusivo — valoriza todas as contribuições, independentemente do nível de experiência, formação artística, idade ou background cultural.
O soundpainting expande essa inclusão de forma ainda mais concreta. Tratam-se de mais de 1.500 gestos que comunicam instruções a músicos, atores, dançarinos, artistas visuais e qualquer outro tipo de performer. O soundpainter, através do gesto, “compõe” ao vivo, e o grupo responde.
Essa linguagem torna-se inclusiva por diversos motivos:
- Não depende da fala - os gestos são universais. Pessoas que não partilham a mesma língua, ou que têm limitações na fala, comunicam sem barreiras. É uma ponte entre culturas, realidades e capacidades diferentes.
- Acolhe qualquer nível de experiência - o soundpainter pode ajustar a complexidade dos comandos ao grupo. Desde iniciantes até profissionais altamente técnicos, todos encontram espaço para contribuir de forma significativa.
- Valoriza todas as formas de expressão - no soundpainting, o que importa é a intenção, não a perfeição técnica. Um movimento simples, um som inesperado, um olhar — tudo tem valor. Isto faz com que pessoas com diferentes capacidades motoras, cognitivas ou sensoriais possam participar plenamente.
- Promove a escuta e a cooperação - tal como no improviso, o foco está no coletivo. A arte nasce da resposta ao gesto e da interação entre performers. Cada pessoa é necessária para a construção do momento.
Quando combinamos improviso teatral com soundpainting, criamos um ambiente onde qualquer corpo e qualquer voz se tornam instrumentos artísticos legítimos. O diretor da improvisação — o soundpainter — guia a energia do grupo, mas o grupo mantém autonomia criativa.
Tanto o teatro de improviso quanto o soundpainting partem do mesmo princípio fundamental: a criação acontece no encontro. No improviso, encontramos liberdade; no soundpainting, uma gramática partilhada que potencializa essa liberdade. O resultado é uma forma de arte profundamente inclusiva, colaborativa e humana.
Num mundo que ainda luta com barreiras e divisões, o improviso e o soundpainting lembram-nos que é possível criar juntos — mesmo quando partimos de lugares diferentes.
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